A bola da vez, ou devo dizer, o tiro da vez, é o filme Salve Geral, do diretos Sérgio Rezende, responsável por diversos filmes que foram baseados em fatos reais,. A novidade é a sua indicação ao grupo de filmes que podem ser escolhidos, para quem sabe, entrarem na categoria de melhor filme estrangeiro.
Imaginem uma sala razoavelmente grande, então a imaginem quase vazia. Esse foi o cenário que me encontrei quando fui assistir o filme, uma sala de mais de trezentos lugares, abrigando apenas umas vinte pessoas, pior eram o engraçadinho na frente que aplaudiam e berravam no filme. Mas devo admitir que me surpreendi com o filme, ele foge dos "padrões" de filmes brasileiros, principalmente aqueles que mostram polícia e/ou bandidos.
Quando se fala em filmes onde há traficantes e/ou policiais já vem na cabeça o trio básico:
Drogas.
Palavrões
Sexo
Mas isso não ocorre nesse filme, pelo menos não em excesso. Isso que me entusiasmou, quem sabe assim mude, ao menos um pouco, a imagem do Brasil, de país de irracionais sedentos de sangue e sexo, que se comunicam apenas com palavrões. Porque na maioria dos nossos filmes que relatam a nossa “realidade” é isso que encontramos.
O filme é muito bom, mas depois de ouvir algumas palmas irônicas e algumas risadas maldosas comecei a pensar que quem sabe nós próprios temos a imagem desse tal Brasil que vemos nos filmes. Tá certo que o motivo pelo qual o Rafael filho de lúcia, a “heroína' contra as regras, é preso é bem bobinho, mas não quer dizer que não aconteça e é uma prova que pode haver laços entre classes diferentes e que não depende apenas de condições e de raça.
Lúcia é mãe de Rafael e acaba se metendo com pessoas do comando para tentar ajudar o filho que está preso. Sua vontade de ajudar o filho ultrapassa qualquer senso moral e ela é capaz de tudo, mas não permite que seu filho faça NADA de errado. Isso pode a tornar meio que hipócrita, porém, sua hipocrisia é explicada pelo seguinte fato, diferente dela ele está preso, logo, qualquer coisa de errado que ele fizer só o atrapalhará e aumentará ainda mais a sua pena.
O interessante do filme é que junta uma realidade com uma ficção e não deixa parecer algo alienígena. Característica do diretor. Vale a pena assistir, mas preparem-se para passar um bom tempo na cadeira, o filme tem cerca de duas horas de duração, o começo é meio parado, mas depois melhora bastante e não te deixa desviar o olha. Mesmo que o fim pareça óbvio, cuidado, vocês podem surpreender.
Nesse filme pelo menos há uma visão diferente de todos os outros, a protagonista questiona em um certo momento a importância que damos aos fatos e o que fazemos para mudá-los, e mostra uma visão, meio que ruim, da classe média alta.
Quem sabe o nosso cinema possa ter inovações e nós podemos mudar a nossa imagem, só depende de nós, não pensem na música do Criança Esperança. Nós temos cultura, isso é inegável, mas quem sabe menos vaias e risos irônicas possa nos ajudar e mudando a nossa visão mudamos as dos outros.